A praxe tem dado muito que falar e de repente tanta gente acha que a praxe é um bicho de sete cabeças que nos estraga, a nós caloiros, e que não traz nada de bom. É uma pena. Não consigo concordar com aqueles que acham que toda a praxe é inútil e horrenda. Não é.
Eu fui praxada. Se me arrependo muito e desejo não ter ido? Não. Eu gostei, e muito. Nunca ninguém me fez nada de mal, nunca ninguém me obrigou a fazer nada que eu não quisesse e os veteranos são os primeiros a dizer que ninguém é obrigado a nada, e não somos. A praxe também não é uma desculpa para faltarmos às aulas, não. Vou-vos contar a minha experiência.
Fui praxada duas vezes, em duas faculdades diferentes, pertencentes a duas universidades diferentes, a praxe foi diferente.
Quando entrei na FAUL falaram-me sobre a praxe, e eu que não tenho as minhas "social skills" muito desenvolvidas, disse que sim senhora, lá estarei. Eles falaram-me de umas pinturas, umas canções, uma oportunidade de conhecer muitas pessoas, e eu fui. A praxe durou uma semana, uma semana em que não havia aulas. Dividiram-nos por grupos, pessoas de vários cursos diferentes, rapazes e raparigas, todos misturados. Se não fosse pela praxe, conhecendo-me como me conheço, não teria falado com mais de meia dúzia de pessoas na minha turma, mas não, na primeira semana de aulas já conhecia pessoas por todo o lado e ao longo do ano pudemos sempre pedir ajuda aos veteranos sobre as mais variadas coisas, e eles ajudaram. A praxe não me custou nada, custou mais à minha irmã quando cheguei a casa dela a cheirar a ovos e a ketchup, mas a mim não me doeu nada. Filmaram a praxe na FAUL e aparecemos na televisão, a minha mãe ligou-me logo "apareces na tv, apareces na tv", "
Praxe Social", foi assim que lhe chamaram, fomos ao bairro social mais próximo, cantámos serenatas às pessoas que se punham às janelas, falámos com as pessoas e olhem que foi bonito, foi.
Eu mudei de curso e isso é outra história mas neste ano lectivo pôs-se aquela pergunta "vais ser praxada outra vez?" e eu nem tive dúvida nenhuma, claro que ia ser praxada outra vez. E lá fui para a FCSH sem conhecer ninguém, tratar das minhas coisas quando me vieram falar da praxe, e eu fui, e mais uma vez (desta vez sem cheiros maus) pintaram-me a cara, aprendi canções, conheci a minha turma (porque aqui a praxe é a nível do curso) e fui a sítios que de outra forma talvez não iria. Levaram-nos à Biblioteca de Arte da Gulbenkian, ensinaram-nos a fazer o cartão da biblioteca e nenhum caloiro ficou sem saber sobre isto, sem a praxe se calhar iamos passar muito tempo sem nenhum cartão. Quando nós, no meio da praxe, andamos de metro com os veteranos e eles nos perguntam se estamos felizes e nós respondemos bem alto (não tão alto quanto eles gostariam) "sim, porra", não estamos a mentir, aquilo é divertido, acreditem. Eu não me importo muito de andar com um cordão de animais ao pescoço e com "HA" escrito na testa, não me importo nada de cantar coisas engraçadas com aqueles que agora são meus amigos. Nós divertimo-nos um bocadinho, mesmo que as pessoas olhem de lado para nós como se estivessemos a ser torturados por um bando de malucos vestidos de preto, olhem, há por ai gente de fato e gravata que faz pior, não acham?
É verdade que acontecem coisas feias em algumas praxes, é, concordo plenamente, mas não digo que o problema seja das universidades ou da praxe em si, o problema é de uns quantos tolos que para ai andam que só têm ideias tristes que levam a situações ainda mais tristes.
Pessoalmente, não me arrependo da praxe, diverti-me, conheci pessoas, aprendi coisas úteis e ninguém me fez mal, pelo contrário, toda a gente me fez muito muito bem.
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Cartão da Praxe FAUL 2013/2014 |
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Baptismo História da Arte FCSH 2014/2015
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